11 de julho de 2012

Minueto para meus 40 anos


I
Retomar a caneta e o vazio da página
Apenas pela decisão de ter que escrever.
Tanto tempo, tantas distrações...
Mas se esse meu traço e lavra
Não terão substitutos nem herança,
Petrifico sua forma.

Minha verve será a lembrança
Deste paciente corpo semântico
Contente com alguns amigos e livros.

Tudo passageiro.

II
O que antes era em excesso --
Pilhas de linhas, interditos
E sentidos quase vazios
Já rasurei ou perdi.

Haverá de ser posto, agora,
No pesado centro de atenção
Tão somente um drama
De infindas imagens:
Uma galeria de gestos e gostos.

Afinal, posterior ao entendimento,
O tempo mostrou que é o passado
Que ensina os limites

Da liberdade
Da linguagem.

III
Escolher da ciência,
Da filosofia e das letras
Não mais a verdade,
Validade ou referência:
A maior virtude é a paixão pela cena.

Criar a ficção de si mesmo,
Ainda que persistam a lógica --
Com sua lâmina cega
E os desejos, com todos seus equívocos.

A chave para o poema
Percebe-se
Tem sete lados
Arranjados
Em geometria perfeita.

IV
Só então presta-se a máscara
Ao justo intento de fingir
As duas vidas que entretenho.

Arremedo de mim mesmo,
Por esta forma é que crio
O equilíbrio da balança dos dias.

Em total afastamento.

V
E se inevitável é o caminhar
Até o absoluto silêncio
Das paisagens extáticas,
A maturidade resulta em prudência.

(Vide aquele estrangeiro)

Hoje sei relevar a sorte
E ganhar o alívio honesto
Para as retinas fatigadas.
Sei arrastar-me pelos compassos,
Contando solitário,
Todas as figuras deste minueto.

VI
Soberano.
Visionário.

A insânia dessa regressa vontade
Materializa estes três termos:

"Porém, contudo, todavia".