16 de novembro de 2012

Novembro

(16112012)


Sim sou sei sim.
Sou quando sou sim,
Sei ser se sou só.
Ser tão se sou sim.

Sou só se sei
Ser sim sei eu.

Se sei sim sou tão,
Sou sim se só.
Ser isso e sou é só
Saber ser assim
Sou sim.

Sem medo sou.

Se sou só sou
Sei ser mais tão,
Só ser sim e só.

Se são tão,
São só é só tão,
Se sou só se sim.

Noite canta, é só seu grito -
Enquanto assim sou só:
Sim.

5 de novembro de 2012

Algoritmo


Estes não são tempos de gigantes.
Não há mais espaço para tais jogos cênicos:
A expressividade contida apenas no silêncio
Dos passos que evasivo desenho.

É como se houvessem incontáveis destinos
Concorrendo pela perpetuidade do instante.

Hoje é tão-somente o possível.

Estes não são tempos de eloquência.
Não há intervalos nem mesmo esquecimento:
O desejo aponta a quietude
Das linhas imprudentes que com efeito escrevo.

É como se comprimisse todo o conjunto de histórias
Forçando a virtualidade do movimento.

Hoje é tão. E somente.

Estes não são tempos de conquistas.
Não há nenhum sonho a perder:
Um passado determinado a voltar
Doa suas lembranças ao vazio de sempre.

É como se faltasse um impulso
Cindindo os liames do posto presente.

Hoje será.

"A insensibilidade do azul e da pedra."

27 de setembro de 2012

Paidéia


I

Diante do óbvio,
A espiral do tempo
Com suas inegáveis ranhuras,
Descobriram alguns
(Estes Zenão e Parmênides)
Como driblar o imóvel
Contorno dos termos.

Posto do axioma
Seu intento
-- Voltar o ser sob(re) si mesmo
Por definição,
Criar o conceito,
Optaram estes pelo avesso.

Acesso situado do mesmo
Ao diferente:
Através do negativo,
A ironia e o disfarce
Antes que a verve
Dialógica socrática aparecesse.

Uma hipérbole instalava-se
No centro do então simétrico
Fundo branco deste espaço:
Poesia rompendo o silêncio.

II

Somente essa pedra fria
Que força o virtual do entendimento
Poderia tocar o absurdo
Sem deixar se fragmentar
Em incontáveis
E agudas experiências
O real e seus perceptos,
Para sugerir imediatas
Ainda que ocas
Suas proposições tocantes em erro.

A astúcia que tardou a ser ouvida
Ressoa agora por toda a história
E pelas frestas desse jogo
De espelhos e contraditos.

Então permitiu àquele que escreve
A técnica do dizer por outro.
Falando tal qual um tolo:

Diante do óbvio
O não-sentido é só
Provocativo.

III

Mas nos faltam armas de conquista
Sobre as muralhas das aporias
E sobre os falsos dilemas.

Inconsequente, o jovem Platão,
Que venceu o desejo
De ter o movimento
Encerrado para sempre
Nos labirínticos corredores
Da Academia,
Recusa todos os simulacros
E apenas alguns
Modos gregos.

Aqui tudo pela ordem.

Entretanto, tal como um antídoto
-- Ou como senha
Grava o professor sua máxima,
Como aqueles que exibem
Os despojos de guerra
Tão somente para insistir à memória:

"Não entre aqui quem não for geômetra".

11 de julho de 2012

Minueto para meus 40 anos


I
Retomar a caneta e o vazio da página
Apenas pela decisão de ter que escrever.
Tanto tempo, tantas distrações...
Mas se esse meu traço e lavra
Não terão substitutos nem herança,
Petrifico sua forma.

Minha verve será a lembrança
Deste paciente corpo semântico
Contente com alguns amigos e livros.

Tudo passageiro.

II
O que antes era em excesso --
Pilhas de linhas, interditos
E sentidos quase vazios
Já rasurei ou perdi.

Haverá de ser posto, agora,
No pesado centro de atenção
Tão somente um drama
De infindas imagens:
Uma galeria de gestos e gostos.

Afinal, posterior ao entendimento,
O tempo mostrou que é o passado
Que ensina os limites

Da liberdade
Da linguagem.

III
Escolher da ciência,
Da filosofia e das letras
Não mais a verdade,
Validade ou referência:
A maior virtude é a paixão pela cena.

Criar a ficção de si mesmo,
Ainda que persistam a lógica --
Com sua lâmina cega
E os desejos, com todos seus equívocos.

A chave para o poema
Percebe-se
Tem sete lados
Arranjados
Em geometria perfeita.

IV
Só então presta-se a máscara
Ao justo intento de fingir
As duas vidas que entretenho.

Arremedo de mim mesmo,
Por esta forma é que crio
O equilíbrio da balança dos dias.

Em total afastamento.

V
E se inevitável é o caminhar
Até o absoluto silêncio
Das paisagens extáticas,
A maturidade resulta em prudência.

(Vide aquele estrangeiro)

Hoje sei relevar a sorte
E ganhar o alívio honesto
Para as retinas fatigadas.
Sei arrastar-me pelos compassos,
Contando solitário,
Todas as figuras deste minueto.

VI
Soberano.
Visionário.

A insânia dessa regressa vontade
Materializa estes três termos:

"Porém, contudo, todavia".