Às vezes, sobre um soneto voraz e abrupto, passa
uma rapariga lenta que não sabe,
e cuja graça se abaixa e movimenta na obscura
pintura de um paraíso mortal.
Nesse soneto nocturno escrevo que grito,ou então que durmo,
ou que às vezes enlouqueço. E a matéria grave
e delicada do seu corpo pousa no centro
desse sopro feroz. E o soneto
veloz abranda um pouco, e ela curva o corpo
teatral - e o ânus sobe como uma flor animal.
O meu pénis avança, no soneto que soletro
como uma dança, ou um peixe negro nos
frios planos sombrios e sonâmbulos:
- a aliança intrínseca de um pénis e de um ânus.
Herberto Helder, Ou o poema contínuo, Assírio & Alvim.
27 de maio de 2009
O corpo ainda é corpo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário