28 de fevereiro de 2011

Balada para Artemiro Cruz

Simulo tua morte, nosso possível encontro:
Rejeição e amor fugaz em linhas nos definem.
Incomoda-te essa minha vontade?
Liberdade-rancor-fracasso.

Mentir seria meu ofício, contar histórias:
Interessar-me-ia somente ver meus olhos
Ao observar Catalina. Mas ela passa.
Suas incontáveis memórias não.

Simulo teu leito e tua face partida
Que em cacos me espia – logo sou
Teu esgar às luzes de Hermosillo
E a resistência dos teus.

Por tantos índios caídos e falsos messias,
Finjo hoje ser um yaqui, no centro do mundo.
Esse peso de opostos me derruba:
Consigo? Quase, quase. Só quase.

Sua força mítica e seu nome inútil
Morrerei, morrerá – um noturno adágio.
E quem viverá nesse silêncio?
Só tu é que me poderá contar:

“Acreditará em seus dias com os olhos fechados.”


Gustavo Lacava,
28/02/2011

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